É necessário consumir produtos de origem animal?

Luciano Carlos Cunha[1]

Por vezes é defendido que consumir produtos de origem animal é necessário para manter uma boa saúde e que, portanto, o consumo de animais está justificado.

Entretanto, consumir produtos de origem animal não é necessário para manter uma boa saúde. Isso é atestado por muitas organizações de especialistas em nutrição ao redor do mundo.Exemplos são as posições da Academy of Nutrition and Dietetics[2], National Health Service of United Kingdom[3], Dietitians Association of Australia[4], Dietitians of Canada[5], Irish Nutrition and Dietetic Institute[6], Asociación Española de Dietistas y Nutricionistas[7], Sociedad Argentina de Nutrición[8],Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável de Portugal[9], Italian Society of Human Nutrition[10] e Nordic Co-operation[11], da qual fazem parte Dinamarca, Findânlia, Islândia, Noruega e Suécia.

Essas não são organizações veganas (na verdade, elas publicam outros estudos sobre alimentação de origem animal). O que as faz terem essa posição é simplesmente o peso das evidências.

Por exemplo, a Academy of Nutrition and Dietetics concluiu que uma alimentação vegana bem planejada é saudável e nutricionalmente adequada (podendo até mesmo ajudar na prevenção e tratamento contra certas doenças) em qualquer estágio da vida[12], incluindo a gravidez, amamentação, infância, adolescência, terceira idade e para atletas[13]. Isso é assim porque o que precisamos é dos nutrientes que os alimentos contêm, e não de alimentos específicos[14].

Além disso, mesmo que fosse necessário consumir produtos de origem animal, ainda deveríamos pesquisar como tornar isso desnecessário, da mesma maneira que, se fosse necessário matar outros humanos para sobrevivermos, a coisa certa a fazer seria pesquisar como tornar isso desnecessário.

REFERÊNCIAS

AGNOLI, C.; BARONI, L.; BERTINI, I.; CIAPPELLANO, S.; FABBRI, A.; PAPA,M.; PELLEGRINI, N.; SBARBATI, R.; SCARINO, M.L.; SIANI, V. & SIERI, S. Position paper on vegetarian diets from the working group of the Italian Society of Human Nutrition. Nutrition, Metabolism and Cardiovascular Diseases, v. 27, p. 1037-1052, 2017.

ASOCIACIÓN ESPAÑOLA DE DIETISTAS Y NUTRICIONISTAS. La dieta vegetariana sí, pero bien planificada y con vitamina B12. Gaceta Médica, v. 175, p. 20, 2006,

DIETITIANS ASSOCIATION OF AUSTRALIA. Vegan diets. Nutrition Information A-Z, 2016. Disponível em: http://daa.asn.au/for-the-public/smart-eating-for-you/nutrition-a-z/‌ve‌g‌a‌n‌‌‌-diets. Acesso em: 01 mar. 2023.

DIETITIANS OF CANADA. Healthy eating guidelines for vegans. Your health, 2014. Disponível em: http://dietitians.ca/Your-Health/Nutrition-A-Z/Vegetarian-Diets/Eating-Guide‌lines‌-for-Vegans.aspx. Acesso em: 01 mar. 2023.

ÉTICA ANIMAL. Nutrição: casos especiais. Ética Animal: ativismo e investigação em defesa dos animais, 29 abr. 2020a.

ÉTICA ANIMAL. Nutrição vegana: introdução. Ética Animal: ativismo e investigação em defesa dos animais, 30 abr. 2020b,

GALLO, D.; MANUZZA, M.; ECHEGARAY, N; MONTERO, J.; MUNNER, M.; ROVIROSA, A.; SÁNCHEZ, M. A.; MURRIA, R. S. Alimentación vegetariana. Sociedad Argentina de Nutrición, [s.l.], 2013.

GOMES SILVA, S. C.; PINHO, J. P.; BORGES, C.; TEIXEIRA SANTOS, C.; SANTOS, A.; GRAÇA, P. Linhas de orientação para uma alimentação vegetariana saudável. Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável, Direção-Geral da Saúde, 2013.

IRISH NUTRITION AND DIETETIC INSTITUTE. Eating well on a vegetarian diet, factsheet, Dublin: Irish Nutrition and Dietetic Institute, 2016.

MELINA, V.; CRAIG, W. J.; LEVIN, S. Position of the Academy of Nutrition and Dietetics: Vegetarian diets. Journal of the Academy of Nutrition and Dietetics, v. 116, n.12, p. 1970-1980, 2016 [1987].

NATIONAL HEALTH SERVICE, UNITED KINGDOM. The vegan diet. NHS choices, [s.l.], 2015. Disponível em: http://nhs.uk/Livewell/Vegetarianhealth/Pages/Vegandiets.aspx. Acesso em: 01 mar. 2023.

NORDIC CO-OPERATION—NORDEN. Nordic nutrition recommendations 2012: Integrating nutrition and physical activity. Copenhagen: Nordic Council of Ministers, 2014.


NOTAS

[1] Doutor em Ética e Filosofia Política pela Universidade Federal de Santa Catarina, coordenador geral no Brasil das atividades da organização Ética Animal (www.animal-ethics.org/pt). É autor dos livros Uma breve introdução à ética animal: desde as questões clássicas até o que vem sendo discutido atualmente (2021) e Razões para ajudar: o sofrimento dos animais selvagens e suas implicações éticas(2022). Publicou também capítulos em outras obras e artigos em periódicos especializados, que podem ser lidos aqui: https://ufsc.academia.edu/LucianoCunha. Contato: luciano.cunha@animal-ethics.org.

[2] Ver Melina; Craig; Levin (2016).

[3] Ver National Health Service of United Kingdom (2015)

[4] Ver Dietitians Association of Australia (2016)

[5] Ver Dietitians of Canada (2014).

[6] Ver Irish Nutrition and Dietetic Institute (2016)

[7] Ver Asociación Española de Dietistas y Nutricionistas (2006).

[8] Ver Gallo et. al., 2013.

[9] Ver Gomes Silva et. al., 2015.

[10] Ver Agnoli et. al., 2017.

[11] Ver Nordic Co-operation (2014).

[12] Para a posição da Academy of Nutrition and Dietetics, ver Melina; Craig; Levin (2016).

[13] Para mais referências em relação à alimentação vegana nesses casos particulares, ver Ética Animal (2020a). Para uma introdução geral à aspectos nutricionais da alimentação vegana, ver Ética Animal (2020b).

[14] Para uma lista de estudos em relação à obtenção de cada tipo de nutriente, ver Ética Animal (2020b).