Senciência em insetos: um breve resumo das evidências

Luciano Carlos Cunha[1]

Há uma quantidade crescente de evidências sobre senciência em insetos. A seguir estão alguns exemplos:

  • O comportamento dos insetos é flexível, apresentando tomadas de decisão em contextos de mudança de circunstâncias, comportamento adaptativo, generalização cognitiva e também aprendizagem, integrando diferentes tipos de informação[2].
  • Possuem sistemas nervosos centralizados com cérebros distintos. Dentre as regiões de seus cérebros, está o protocerebrum, que inclui os chamados corpos de cogumelo, contendo entre cem mil e um milhão de neurônios[3].
  • Em seus cérebros foram registrados potenciais de campo locais (isto é, atividade elétrica) com uma resposta entre 20Hz e 30Hz[4].
  • O conectoma de alguns insetos (isto é, o mapa de suas conexões neurais) é comparável às redes de trato de fibra encontradas em primatas, apresentando a chamada organização de pequeno mundo (alta conectividade entre regiões vizinhas combinadas com conexões de atalho para regiões distantes)[5].
  • Os corpos de cogumelo dos insetos recebem e integram informações multissensoriais distintas, permitindo que aprendam com as experiências anteriores, lembrem-se delas e integrem as informações[6], sendo portanto um centro especializado para processar informações espaciais e para organizar o movimento[7].

REFERÊNCIAS

ADAMO, S. A. Do insects feel pain? A question at the intersection of animal behaviour, philosophy and robotics. Animal Behaviour, n. 118, p. 75-79, 2016.

COLLETT, M.; COLLETT, T. S. How does the insect central complex use mushroom body output for steering? Current Biology, n. 28, p. R733-R734, 2018.

EFSA – EUROPEAN FOOD SAFETY AUTHORITY. Opinion of the Scientific Panel on Animal Health and Welfare (AHAW) on a request from the Commission related to the aspects of the biology and welfare of animals used for experimental and other scientific purposes. EFSA Journal, v. 3, n. 12.

GRONENBERG, W. & LÓPEZ-RIQUELME, G. O. Multisensory convergence in the mushroom bodies of ants and bees. Acta Biologica Hungarica, n. 55, p. 31-37, 2004.

KAAS, J. H. (org.). Evolution of nervous systems. Amsterdam: Elsevier, 2016).

KAISER, M. Neuroanatomy: Connectome connects fly and mammalian brain networks. Current Biology, n. 25, p. R416-R418, 2015.

KLEIN, C. BARRON, A. B. Insects have the capacity for subjective experience. Animal Sentience: An Interdisciplinary Journal on Animal Feeling, n.1(9), 2016.

MENDL, M.; PAUL, E. S.; CHITTKA, L. Animal behaviour: Emotion in invertebrates? Current Biology, n. 21, p. R463-R465, 2011.

POLILOV, A. A. The smallest insects evolve anucleate neurons. Arthropod Structure & Development, n. 41, p. 29-34, 2012.        


Notas

[1] Doutor em Ética e Filosofia Política pela Universidade Federal de Santa Catarina, coordenador geral no Brasil das atividades da organização Ética Animal (www.animal-ethics.org/pt). É autor dos livros Uma breve introdução à ética animal: desde as questões clássicas até o que vem sendo discutido atualmente (2021) e Razões para ajudar: o sofrimento dos animais selvagens e suas implicações éticas(2022). Publicou também capítulos em outras obras e artigos em periódicos especializados, que podem ser lidos aqui: https://ufsc.academia.edu/LucianoCunha. Contato: luciano.cunha@animal-ethics.org.

[2] Sobre isso, ver EFSA (2005); Mendl et. al. (2011) e Adamo (2016).

[3] Kaas (2016).

[4] Polilov (2012).

[5] Kaiser (2015).

[6] Gronenberg; López-Riquelme (2004); Collett; Collett (2018).

[7] Barron; Klein (2016); Klein; Barron (2016).


A produção deste texto foi financiada pela organização Ética Animal.