Quais critérios utilizar para ajudar de modo eficiente? – Um breve resumo

Suponha que temos como objetivo sermos o mais eficiente possível em tornar o mundo um lugar menos ruim. Que critérios podemos utilizar para selecionar quais causas priorizar, quais problemas priorizar dentro dessas causas e para escolher as estratégias? A seguir está uma lista de critérios que têm sido propostos e questões para orientar nesse tipo de decisão[1].

Critérios e questõesExplicação
Gravidade da situaçãoNormalmente é medida em termos da: (1) Quantidade de vítimas (2) O quão ruim é a situação de cada vítima
Quando um problema tem mais vítimas, mas em outro as vítimas estão na pior situação, como proceder?Temos de perguntar:
(1) O quão pior precisa ser a situação da minoria para que tenham prioridade?
(2) O quão maior precisa ser o número de vítimas que não estão na pior situação para que tenham prioridade?
Tratabilidade do problemaProblema A: 900 mil vítimas. Problema B: 500 mil vítimas. As vítimas de A e B estão em situações igualmente ruins. Pela gravidade da situação, devemos priorizar A. Mas, suponha que, com os recursos que temos, podemos, ou ajudar 400 mil vítimas de A, ou ajudar em igual medida 450 mil vítimas de B. Assim, apesar de A ser uma situação pior, é B que apresenta a pior situação possível de ser melhorada.
Grau de negligênciaQuanto maior a quantidade de pessoas já envolvidas em tentar resolver um problema, maior a probabilidade de o problema ser minimizado sem a nossa ajuda. Quando mais negligenciada uma causa, cada pessoa adicional faz mais diferença.
Tamanho do benefício a ser causadoImagine que o problema A tem 100 vítimas com sofrimento de -50.  O problema B tem 90 vítimas com sofrimento de -40. Ou seja, A é mais grave. Ambos os problemas são igualmente negligenciados e é possível ajudar todas as vítimas de um e de outro. Contudo, imagine que, com uma mesma quantidade de recursos, podemos: ou passar todas as vítimas de A de -50 para -49 (um alívio muito leve), ou passar todas as vítimas de B de -40 para -10 (um alívio considerável). Priorizando B causaríamos um bem maior com a mesma quantidade de recursos.
O tamanho do benefício é sempre o fator mais importante?Suponhamos que, no exemplo acima, a decisão fosse entre: ou passar as 100 vítimas de A de -50 para -30 (benefício total = 2.000), ou passar as 90 vítimas de B de -40 para -10 (benefício total = 2.700). Nesse caso, algumas pessoas diriam que devemos escolher a primeira opção (pois o benefício vai para as vítimas que estão na pior situação e beneficia um número maior de vítimas), mesmo que na segunda opção produzamos um benefício maior (para cada vítima ou na soma total).
Como saber quando pesa mais o tamanho do benefício e quando pesa mais a gravidade da situação?Há várias maneiras possíveis de se proceder. Uma possibilidade seria buscar maximizar os benefícios, mas defender que uma unidade de benefício tem mais valor quanto mais grave for o problema ao qual seria direcionado esse benefício.
Por que é crucial tentar estimar os efeitos de longo prazo?Comparando-se duas estratégias, é possível que uma cause mais benefícios inicialmente, mas que, levando em conta os efeitos de longo prazo, seja a outra que causará um benefício total maior. Também é possível que uma estratégia cause grandes benefícios em curto prazo mas tenha efeitos negativos em longo prazo, podendo até mesmo ter um saldo total negativo.

Referências

CUNHA, L. C. Uma breve introdução à ética animal: desde as questões clássicas até o que vem sendo discutido atualmente. Curitiba: Appris, 2021.

DICKENS, M. Evaluation frameworks (or: when importance / neglectedness / tractability doesn’t apply). Philosophical Multicore, 10 jun. 2016.

ŠIMČIKAS, S. Effective animal advocacy resources. Rethink Priorities, 24 out. 2019.


Notas

[1] Para uma discussão sobre esses critérios, ver Cunha (2021. p; 193-228), Dickens (2021) e Simčikas (2021).


A produção deste texto foi financiada pela organização Ética Animal.