O debate sobre o critério da senciência – Um breve resumo

A seguir, está um resumo das principais criticas ao critério da senciência e das respostas que os defensores do critério da senciência têm oferecido.

CríticaComo a crítica tem sido respondida
Há outras coisas para além do sofrimento/prazer que afetam o bem-estar (como, por exemplo, a satisfação de preferências e obter bens como o conhecimento, ter certas relações etc.).O critério da senciência diz apenas quais seres possuem um bem-estar. O critério não se compromete necessariamente (ainda que seja compatível) com a tese de que o bem-estar se resume à sofrimento/prazer. Também é compatível com a tese de que o bem-estar inclui também, por exemplo, a satisfação de preferências e bens objetivos..
O critério da senciência só faz sentido em uma ética utilitaristaO critério da senciência diz apenas quais seres devemos considerar, sem se comprometer com uma maneira específica de determinar a ação correta. De fato, este critério tem sido incorporado pelas mais variadas teorias da ética contemporânea.
O critério da senciência é antropocêntrico, pois busca nos animais uma similaridade com humanos (a senciência)O critério da senciência não defende que devemos considerar os animais sencientes porque se parecem com humanos, e sim, porque são passíveis de serem prejudicados e beneficiados.
O critério da senciência comete uma discriminação baseada nos reinos, pois exclui quem não pertence ao reino animalSer senciente não é o mesmo que pertencer ao reino animal. Há membros do reino animal que não são sencientes (como as esponjas, por exemplo) e no futuro poderá haver seres sencientes não animais (por exemplo, se a senciência em meios digitais for possível). O critério prescreve considerar todos os seres sencientes, independentemente de pertencerem ou não ao reino animal.
Há danos que não necessariamente causam sofrimento, como o dano da morteAceitar o critério da senciência não implica afirmar que a única forma de dano é o sofrimento. Por exemplo, um ser senciente também é prejudicado se é impedido de experimentar o que lhe seria positivo (que é o que acontece quando morre, por exemplo).
Há danos que não causam sofrimento nem impedem alguém de desfrutar algo positivo (como, por exemplo, se alguém for violentado enquanto está inconsciente e quando acordar não se lembrar de nada).O critério da senciência diz que os seres passíveis de serem prejudicados são os que possuem consciência, mas não afirma necessariamente que todas as formas de dano, ou causam sofrimento, ou impedem experiências positivas (ainda que seja compatível com essa visão). O critério também é compatível com a visão de que um ser senciente é prejudicado toda vez que tem suas preferências violadas (sejam as preferências que de fato possui, ou as que teria se tivesse as informações relevantes sobre o que está ocorrendo).
O critério da senciência exclui os invertebradosHá muitos tipos de invertebrados que satisfazem os critérios para a senciência, como cefalópodes, crustáceos, muitos tipos de insetos e aracnídeos, e talvez gastrópodes, bivalves e até mesmo vermes nematodos.
O critério da senciência é melhor do que o critério antropocêntrico por incluir na comunidade moral um número maior de seres. Pela mesma razão, o critério da vida é melhor do que o critério da senciência.O número de seres incluídos, por si só, não mostra que um critério é melhor do que outro. Teria que ser mostrado que os seres vivos não sencientes são, de fato, passíveis de serem prejudicados e beneficiados.
Seres vivos não sencientes também são passíveis de serem prejudicados, pois sobrevivem sob certas condições e perecem sob outrasO fato de um organismo sobreviver ou perecer dependendo das condições não mostra que o organismo necessariamente é prejudicado ou beneficiado dependendo da condição em que se encontra, pois isso por si só não mostra que “há alguém” naquele organismo experimentando certos estados como positivos e outros como negativos. 
Os seres sencientes usam a sensação da dor para evitar o que os mataria e, por meio das sensações positivas, sabem quais coisas contribuem para permanecerem vivos. A senciência é apenas um meio para preservar a vida, que é o que realmente tem valor em si.O fato de que almejamos permanecer vivos não implica que vejamos a vida biológica como tendo valor em si. Normalmente, pensamos que estar vivo é bom porque nos permite ter experiências valiosas. Não vemos tais experiências como possuindo valor meramente instrumental à permanecermos vivos. Ao invés, estar vivo é bom porque permite essas experiências. Se pensássemos que a vida biológica possui valor em si, manteríamos que há algo de bom em permanecer como um corpo vivo sem nenhuma possibilidade de experiências (e nem de voltar a tê-las), e inclusive quando experimentássemos apenas sofrimento extremo e nada mais.
E, se o critério da senciência estiver errado? Se entidades não sencientes (como plantas, ecossistemas, espécies etc.) forem consideráveis, está justificado prejudicar os seres sencientes se isso for necessário para preservar tais entidades.Mostrar que uma entidade é moralmente considerável não é o mesmo que mostrar que ela deve ter prioridade. Mesmo que entidades não sencientes fossem consideráveis, poderia ainda haver razões para, em casos de conflito, priorizar os seres sencientes. A principal razão é que apenas os seres sencientes são capazes de experimentar sofrimento e de a morte lhes impedir experiências positivas. Esses são danos particularmente graves, que nenhuma entidade não senciente é passível de padecer.

Caso você queira se aprofundar nesse tema e consultar referências, os links a seguir contém listas de textos que discutem essas questões em mais detalhes:

https://senciencia.org/#equivocos-comuns-sobre-senciencia

https://senciencia.org/#respostas-a-criticas-ambientalistas-ao-criterio-da-senciencia

https://senciencia.org/#por-que-a-senciencia-e-nao-a-vida-biologica


A produção deste texto foi financiada pela organização Ética Animal.