Um tópico cuja discussão tem crescido bastante nos últimos anos é sobre a eficiência de diferentes tipos de estratégias na defesa dos animais[1]. O quadro a seguir exemplifica alguns debates sobre diferentes questões referentes a estratégias de ativismo.
É importante lembrar que a divisão entre esses debates não deve ser entendida necessariamente em termos de “ou essa estratégia ou aquela” mas, do quanto devemos focar mais em estratégias desse ou daquele tipo.
| Alguns debates sobre várias estratégias de ativismo | ||
| O que está em questão | Principal argumento das posições em conflito | |
| Devemos focar em defender o veganismo ou a redução do consumo? | Pró foco na redução: Pode ser mais fácil conseguir que muito mais pessoas reduzam o consumo do que aceitarem se tornar veganas. Muito mais pessoas fazendo menos pode ter um impacto melhor para os animais do que poucas pessoas fazendo muito. | Pró foco no veganismo: Defender a redução pode passar a impressão de que a exploração animal está correta. Mesmo se menos pessoas aderirem ao veganismo do que à redução, pode ser que o impacto total seja melhor para os animais, se essas pessoas forem mais engajadas no ativismo. |
| Devemos defender a reforma da exploração animal para que os animais sofram menos ou apenas sua abolição? | Pró reforma: regulamentar a exploração animal pode diminuir o sofrimento dos animais explorados e pode ajudar a aboli-la gradualmente, pois pode fazer com o que público se torne cada vez mais preocupado com o que acontece com os animais. | Contra reforma: Como os animais são itens de propriedade, as leis que exigem que sofram menos dificilmente terão efeito se reduzirem os lucros. O público pode pensar equivocadamente que eles estão a sofrer menos, e isso pode aumentar a demanda por produtos de origem animal e, então, aumentar o número de animais usados.. |
| No ativismo contra o consumo de animais, devemos focar no dano para os animais, ou também devemos falar de impactos ambientais e riscos para a saúde (isto é, argumentos indiretos)? | Pró argumentos indiretos: muitas pessoas defendem a exploração animal não porque acreditam que ela seja justa, mas porque gostam do sabor da comida de origem animal. Assim, se abandonarem o consumo de animais, seja lá por que motivo for, será mais fácil que depois se posicionem contra a exploração animal. | Contra argumentos indiretos: apelar a argumentos indiretos pode reforçar a ideia de que o dano para os animais não é suficiente para que a exploração animal seja injusta. Além disso, apelar a argumentos antropocêntricos e ambientalistas pode reforçar essas visões e tornar mais difícil que as pessoas se preocupem com outros danos para os animais (como no caso dos animais na natureza e os riscos-s[2]). |
| Ao falar dos seres sencientes, devemos focar nos não humanos, ou em problemas humanos também? | Pró foco amplo: abordar problemas humanos pode fazer com que outros movimentos sociais aceitem melhor o movimento de defesa dos animais, por perceberem que há metas comuns (a consideração por todos os seres sencientes) | Pró foco nos animais: a vasta maioria das pessoas já foca em problemas humanos e negligencia a situação dos animais. Por isso, há razões para enfatizar a situação dos animais, uma vez que os recursos para a causa animal são muito mais limitados e ela é muito mais negligenciada. |
| Foco em mudança social ou tecnológica? | Pró mudança tecnológica: Certas tecnologias podem tornar obsoleto o uso de animais (por exemplo, carne celular), e isso pode beneficiar os animais mesmo que as pessoas não os considerem. | Pró mudança social: o que irá determinar se a tecnologia será utilizada para causar sofrimento ou para preveni-lo são os valores que as pessoas cultivam. |
| Focar na população em geral ou em pessoas com influência e poder? | Pró foco em pessoas com influência e poder: um menor número dessas pessoas pode ter um impacto maior do que o impacto de uma maioria | Pró foco na população em geral: a maioria das mudanças precisará do apoio de um grande número de pessoas (sejam mudanças sociais ou institucionais). |
| Focar em mudanças de comportamento ou de atitude? | Pró mudança de comportamento: mudanças práticas engajam mais. Estas também podem quebrar a resistência à mudança de atitudes. | Pró mudança de atitude: é difícil as pessoas mudarem o seu comportamento em relação aos animais se elas não mudarem o que elas pensam sobre eles. |
| O quão controversa/ complacente deve ser a abordagem? | Pró ação controversa: a ação controversa chama a atenção para o problema. | Contra ação controversa: a ação controversa pode gerar rejeição. |
REFERÊNCIAS
GREIG, K. Effects of farmed animal advocacy messaging on attitudes towards policies and decisions affecting wild animal suffering. Animal Charity Evaluators, 05 abr. 2017.
REESE, J. Summary of Evidence for Foundational Questions in Effective Animal Advocacy. Sentience Institute, 24 dez. 2019.
Notas
[1] Para um resumo detalhado destes e de outros debates, ver Reese (2019).
[2] Há um estudo que sugere que as pessoas que deixam de consumir produtos de origem animal por razões ambientalistas se tornam mais resistentes à proposta de ajudar os animais na natureza.Ver Greig (2017).
A produção deste texto foi financiada pela organização Ética Animal.
