O que são riscos-s?
Na atualidade, um número enorme de animais sofre intensamente, e em muitos casos, de formas que não existiam no passado. Da mesma maneira, no futuro é possível que surjam novas formas de prejudicar os seres sencientes de forma massiva, em uma escala astronomicamente maior do que a do sofrimento existente na atualidade. Um conceito central nesse debate é o de riscos-s[1]:
- Riscos-s: riscos de que no futuro ocorram eventos que resultem em sofrimento de magnitude gigantesca, que excede o sofrimento existente na Terra até agora.
Diferenças entre riscos-s e riscos-x
Riscos-x são sobre são sobre riscos de aniquilação da humanidade. Riscos-s são sobre cenários com sofrimento astronômico. Há riscos-s que não são riscos-x, pois há formas de sofrimento sobre não humanos que não ameaçam a humanidade.
Como medir a seriedade de um risco-s?
A seriedade de um risco-se é medida multiplicando-se o quão ruim seria o cenário pela sua probabilidade de ocorrer (o resultado é o seu desvalor esperado, ou DE). Vejamos alguns exemplos de riscos-s.
Exemplos de riscos-s
| Exemplos de riscos-s | |
| Exemplo | Explicação |
| Aumento da exploração animal | Exemplos: (1) Expandi-la em escala (isto é, afetar um maior número de seres). (2) Torná-la qualitativamente pior (isto é, aumentar os danos sofridos pelos animais). (3) Criar novas formas pelas quais ela possa acontecer. |
| Expansão do sofrimento dos animais selvagens | Pode ocorrer devido a um aumento do número de animais na Terra ou devido à propagação intencional ou acidental da vida para fora dela[2] |
| Criação de novas formas de senciência | Um exemplo seria a criação de formas de senciência não biológicas. Tais seres, apesar de sencientes, poderão não ter rostos, e nem se movimentar ou gritar. Então, poderá ser difícil ter empatia por eles. Também pode acontecer de uma entidade digital ser senciente e nós não percebermos. Quantidades enormes desses seres podem vir a existir no futuro, pois criá-los poderia envolver menos custos do que criar seres sencientes biológicos. |
Os conceitos de especismo e de substratismo
Assim como o especismo é a discriminação baseada na espécie a qual alguém pertence, o substratismo é a discriminação baseada no tipo de substrato que compõe o corpo do ser (por exemplo, se é orgânico ou não orgânico). Assim como o antropocentrismo é uma forma de especismo (contra quem não pertence à espécie humana), o carbonismo é uma forma de substratismo (contra quem não é orgânico).
O substratismo, tanto quanto o especismo, pode produzir sofrimento em quantidades astronômicas no futuro[3]. Por isso é importante enfatizar que os animais devem ser considerados porque são sencientes (e não, porque são animais ou porque são seres vivos), e que isso implica em considerar outros seres sencientes não orgânicos, caso vierem a existir.
Classificação dos riscos-s
Riscos-s podem ser classificados quanto a vários aspectos. Eis alguns exemplos:
| Classificação dos riscos-s de acordo com a maneira como surgem | ||
| Tipo | Ocorrem… | Exemplos |
| Incidentais | Quando formas de alcançar certa meta geram bastante sofrimento, mas sem o sofrimento ser almejado por si. Os agentes podem até preferirem uma alternativa sem sofrimento, mas não estarem dispostos a pagar os custos. | Sofrimento como efeito da alta produtividade (como na pecuária industrial)ou para obter informações (como na experimentação animal). |
| Agenciais | Quando o agente deseja causar o dano | Agentes sádicos ou decorrente de sentimentos de ódio entre grupos. |
| Naturais | Surgem sem ação de agentes. | Sofrimento decorrente do modo como acontece os processos naturais. |
| Exemplos de outras classificações de riscos-s | ||
| Classificação | Explicação | |
| Conhecidos e desconhecidos | Dependem de se conseguimos imaginá-los atualmente ou não (assim como os medievais não conseguiam imaginar que surgiria a bomba atômica, por exemplo). | |
| Riscos-s desconhecidos de acordo com a maneira como surgem | ||
| Incidentais | Quando mecanismos não conhecidos conduzirão a riscos-s incidentais. | |
| Agenciais | Pode ser que os agentes venham a ter no futuro razões para causar dano, que ainda não conhecemos. | |
| Naturais | Pode ser que o universo já contenha muito mais sofrimento do que se imagina. | |
REFERÊNCIAS
BAUMANN, T. S-risks: An introduction. Reducing Risks of Future Suffering: Toward a responsible use of new technologies, 2017. Disponível em: http://s-risks.org/intro/. Acesso em: 15 fev. 2019;
BAUMANN, T. Avoiding the worst final: how to prevent a moral cathastrophe. Center for Reducing Suffering, 2022.
BURTON, K. NASA Presents Star-Studded Mars Debate. NASA, 25 mar. 2004.
DANIEL, M. S-risks: Why they are the worst existential risks, and how to prevent them. Foundational Research Institute, [s.l.], 2017.
MEOT-NER, M.; MATLOFF, G. L Directed Panspermia: a Technical and Ethical Evaluation of Seeding the Universe. Journal of the British Interplanetary Society, v. 32, p. 419-23, 1979.
O’BRIEN, G. D. Directed Panspermia, Wild Animal Suffering, and the Ethics of World-Creation. Journal of Applied Philosophy, v. 39, n. 1, 2022.
TOMASIK, B. Risks of astronomical future suffering. Foundational Research Institute, 02 jul. 2019.
TOMASIK, B. Why digital sentience is relevant to animal activists. Animal Charity Evaluators. 03 fev. 2015.
Notas
[1] Sobre riscos-s, ver Baumann (2017, 2022);Daniel (2017) e Tomasik (2015, 2019.).
[2] Para exemplos de projetos de expansão da vida para fora da Terra, ver Meot-Ner e Matloff (1979) e Burton (2004).. Para uma crítica a essas práticas, do ponto de vista dos risco-s, ver O’brien (2022).
[3] Sobre isso, ver Tomasik (2015).
A produção deste texto foi financiada pela organização Ética Animal.
