Luciano Carlos Cunha[1]
Testar se uma atitude é ou não especista pode ser mais simples do que imaginamos. Há algumas perguntas[2] que sempre podemos fazer para testarmos se estamos sendo injustos com os animais não humanos.
Por exemplo, podemos perguntar se consideraríamos a atitude em questão justa:
(1) Se não soubéssemos a espécie dos que seriam prejudicados e dos que seriam beneficiados por ela;
(2) Se não soubéssemos a espécie a qual pertencemos;
(3) Se suas vítimas fossem humanas, padecendo de danos de mesma magnitude;
(4) Se os papéis fossem invertidos (por exemplo, se os beneficiários fossem animais não humanos, e os prejudicados fossem humanos);
(5) Se tivéssemos que receber os prejuízos que ela causa para poder alcançar os benefícios obtidos por ela;
(6) Se tivéssemos que receber os prejuízos que ela causa para que outros indivíduos pudessem alcançar os benefícios obtidos por ela.
Se fizéssemos sinceramente essas perguntas, parece que chegaríamos nas seguintes conclusões:
(1) A exploração animal seria amplamente considerado injusta, ou mesmo hedionda.
(2) Parece também que rejeitaríamos dar graus diferenciados de consideração moral dependendo da espécie a qual um ser senciente pertence ou de suas capacidades. Isto é, rejeitaríamos o especismo.
(3) Parece que não apenas consideraríamos injustas as práticas que envolvem prejudicar ativamente os animais não humanos, mas também a negligência em receberem ajuda quando são vítimas de processos naturais[3], como fome, sede, doenças, desastres naturais etc. (que é o que comumente acontece com os animais selvagens).
Isso tudo parece indicar não apenas que não há justificativa para aquilo que é feito aos animais não humanos, mas que também devemos fazer algo para tentar mudar essa situação.
REFERÊNCIAS
CUNHA, L. C. Razões para ajudar: o sofrimento dos animais selvagens e suas implicações éticas. Curitiba: Appris, 2022a.
ÉTICA ANIMAL. Contratualismo. Ética Animal: ativismo e investigação em defesa dos animais, 24 dez. 2015g.
ÉTICA ANIMAL. Justiça plena: o que o véu da ignorância nos mostra sobre uma sociedade justa. Ética Animal: ativismo e investigação em defesa dos animais, 31 dez. 2016f.
ÉTICA ANIMAL. O argumento da imparcialidade. Ética Animal: ativismo e investigação em defesa dos animais, 24 dez. 2015h.
ROWLANDS, M. Animal rights: Moral, theory and practice. 2. ed. New York: Palgrave Macmillan, 2009 [1998].
NOTAS
[1] Doutor em Ética e Filosofia Política pela Universidade Federal de Santa Catarina, coordenador geral no Brasil das atividades da organização Ética Animal (www.animal-ethics.org/pt). É autor dos livros Uma breve introdução à ética animal: desde as questões clássicas até o que vem sendo discutido atualmente (2021) e Razões para ajudar: o sofrimento dos animais selvagens e suas implicações éticas(2022). Publicou também capítulos em outras obras e artigos em periódicos especializados, que podem ser lidos aqui: https://ufsc.academia.edu/LucianoCunha. Contato: luciano.cunha@animal-ethics.org.
[2] Essas perguntas são uma aplicação do método da imparcialidade. Sobre esse método, ver Ética Animal (2015g, 2015h, 2016f) e Rowlands (2009[1998]).
[3] Para uma análise dessa questão, ver Cunha (2022a).
A produção deste texto foi financiada pela organização Ética Animal.
